Sandro Sedrez dos Reis
Contos, Novelas, Poesias, Ensaios e Reflexões
Textos

 

CONEXÃO

 

 

Aeroporto. Um lugar cheio de histórias. São muitas. E, a cada hora elas, podem mudar. Junto com as pessoas que vêm em vão, num desfile infinito por aquele espaço. Se alguém tiver o tempo disponível para sentar-se e observar, perceberá como todos os viajantes contam suas histórias – as que estão vivendo ou as que sonham viver – enquanto transitam com suas bagagens. Roupas, olhares, falas nervosas ao celular, risadas, choros, avidez, tensão. Até mesmo o tamanho das malas. Cada elemento compõe nota musical, nas muitas óperas desempenhadas naquele palco efervescente. Sentidos treinados e alguma empatia podem encontrar todo o tipo de epopeia humana passando por ali.

 

Talvez seja bem isso o que se passa na mente de Endrigo. Sentado numa mesa de café, na área de desembarque do Afonso Pena, em São José dos Pinhais, observa abraços de reencontros entre passageiros e pessoas que os recebem. É o que faz, enquanto aguarda Otto Binder, dirigente da empresa em que trabalha. Ele descerá para uma reunião corporativa ali mesmo, seguindo, depois, em outro voo rumo à Argentina, onde visitará uma fábrica.

 

Os painéis informaram atraso expressivo no voo do CEO. Após reportar a situação e demandar orientações ao staff local, seus pares pedem que aguarde, até saberem com a sede da organização como ficará essa agenda. Se o tempo de conexão entre este voo e o internacional ficar muito próximo, pode até ser desaconselhável manter a atividade. Mas a decisão é do escritório central.

 

Sem gozar de intimidade prazerosa com o tédio, Endrigo decide prosseguir pelo espaço aeroportuário a seu alcance, distraindo-se nas lojas e, claro, observando o movimento das pessoas. Concluído o café que toma diante do portão de desembarque, decide subir para a área de check-in, onde ficam a maior parte das lojas, os serviços de embalagem de malas, os guichês de atendimento das companhias aéreas e o acesso aos portões de embarque.

 

Ao caminhar para a escada rolante, vê uma representante de locadora de veículos, dirigindo-se ao local de trabalho com o clássico uniforme verde. Seus olhos mantêm-se atentos à profissional por mais segundos do que o usual.  É fato que seus traços bem definidos e os cabelos negros chamam sua atenção. Mas não são estes os responsáveis pela ampliação do tempo. Ele bem sabe: é o uniforme. Isto o lembra de Marta. Ele a conhecera quando trabalhava com locação de veículos.

 

Entre negociações para alugar carros, orientações para a retirada destes e, por fim, algumas reclamações – sempre em nome de sua empresa –, foram quatro os encontros com a profissional, antes de surgir o primeiro convite para um café com a mulher por trás do crachá. Jantar, cinema, passeios e lençóis vieram na sequência das semanas. Oito doces e encantadores meses. Até que o nono os fez lembrar que alguns cafés, às vezes, azedam.

 

Agendas divergentes. Mudanças de localidade de trabalho. Reuniões de expansão intermináveis. A contagem do tempo e a geografia pareceram maiores que Marta e Endrigo. A frustração soube falar, enquanto a paixão requereu o direito ao silêncio. A conversa difícil veio, antes que as boas lembranças sumissem do véu da realidade. Preferiram oito meses na memória a arriscar uma longa estrada de esquecimentos. Pareceu o certo a fazer. Há um ano.

 

Endrigo esboça um sorriso patético para si mesmo. Esteve tão ocupado nesses últimos meses, tão voltado para seu novo papel empresarial, que só hoje percebe ainda haver um canteiro sem florescimentos no quintal de seu peito. 

 

Sua vida é agitada; não é chata. Não lhe faltam motivações, nem prazeres. Talvez por isso não tenha precisado prestar atenção nesse pedacinho dentro de si. Mas deve estar ali, já que bastou uma escada rolante e um uniforme verde para as cores do passado subirem e descerem em seus olhos, deixando o sossego no piso inferior.

 

Chega ao andar de cima. Algumas pessoas caminhando rápido, carregando suas malas com rodinhas; enquanto outras entoam murmúrios no coral das assimétricas filas de despacho de bagagem. Conversas animadas nas cafeterias e lojas. Gente fazendo últimas perguntas nos balcões comerciais das companhias aéreas. Abraços de despedida em frente ao acesso à sala de embarque. A cena inteira o conforta: ganhará prorrogação de prazo para a mente, antes que a monotonia o encontre e avise o tédio. Ou antes que haja nova insistência do passado em passear com ele.

 

Seu celular vibra, anunciando a chegada de uma mensagem: “Reunião mantida; pauta reduzida; pede sua presença; aguarde no local”. De forma quase simultânea, seus olhos caçam os painéis de informação de voos. Por fim, há notícias novas: a chegada está redefinida. O novo horário informado aponta que ele esperará por mais uma hora e meia.

 

Decide distrair-se nas lojas. Quando entra numa de perfumes, escuta seu nome:

 

- Endrigo?

 

A voz não é estranha. Ele se vira e a reconhece de imediato:

 

- Leila! Como vai? Há quanto tempo, hein?

 

A mulher ruiva sorri.

 

- É... algum tempo mesmo. A última vez que nos vimos foi no Menina Zen; e minha amiga ainda o namorava.

 

A frase foi dita com leveza. Mas, por alguma razão, um pequeno assombro de constrangimento passeou nas têmporas do homem.

 

- Pois é, né? Foi um tempo legal.

 

Um breve silêncio, e ele se encoraja para dizer algo:

 

- Sabe, não vi mais a Marta pela região...

 

- Não que você saia muito, né? – Ironiza Leila.

 

O rosto de Endrigo ameaça enrubescer, perguntando-se o quanto de sua história foi compartilhado com as amigas da ex. Mas antes de seus juízes internos o açoitarem muito, a moça entrega novas informações:

 

- Mas, cá entre nós, mesmo se você tivesse uma vida social mais parecida com a de um ser humano, continuaria sem vê-la. A menos que fosse seu hábito viajar para o Uruguai.

 

- Como é? – Pergunta Endrigo, admirado.

 

- Pois então. Faz uns seis meses, ela me informou ter aceitado uma proposta para administrar rede de lojas de locação de veículos por lá.

 

- Nossa! Não fazia ideia. Da mesma empresa?

 

Leila dá de ombros.

 

- Se quer saber, não tenho certeza. Acho que, no mínimo, é alguma parceria. O salário pareceu bom, e ela viu nisso uma chance de estudar na ORT, além de mudar um pouco de ares. 

 

- Não sabia desse desejo. – Murmura o homem.

 

- O de mudar um pouco de ares?

 

Sem graça, Endrigo tenta reparar a fala:

 

- Hã... não, não. Eu me referi à ORT.

 

- Então você sabia quanto a ela querer muito “mudar de ares”? É isso?  – provoca a amiga.

 

Quase gaguejando, ele retruca:

 

- Na verdade, não chegamos a falar muito sobre desejos para o futuro. Não me lembro, ao menos.

 

Leila faz um sorriso ambíguo, olha-o de cima a baixo, e comenta.

 

- Acho que não falaram muito sobre muitas coisas, né? Mas relacionamentos são assim mesmo. As percepções de necessidades e a coragem de falar delas nem sempre são rápidas. E jamais é algo fácil. Ainda mais quando estamos na vibração das carreiras profissionais. Tudo parece tão agudo e intransponível, não parece?

 

Os dois balançam as cabeças, concordantes, com as bocas cerradas e as caras herméticas, como quando não se quer dizer o que de fato se está pensando.

 

- Bom, eu preciso ir. Foi um prazer revê-lo! – Despede-se Leila.

 

- Idem. Felicidades para você e para os seus!

 

- Obrigada. Pra você também!

 

Já na porta da loja, ela se vira e fala, mais uma vez:

 

- “É pena o tempo parecer nosso inimigo, bem na fase em que ele pode ser um aliado. E só vamos vê-lo como amigo lá adiante, quando ele até pode ser um, mas com frequência já não nos ajuda”.

 

Endrigo a encara, parecendo não entender a razão daquela fala. Leila sorri, sem jeito.

 

- Desculpe. Falei meio sem querer. Essa frase veio da minha mãe. Estou pensando muito nela hoje. É por isso que estou aqui. Vim buscá-la. Decidiu passar uns tempos comigo.

 

Um sorriso melancólico é a última informação passada por Leila, antes que ela suma das imediações, rumo ao andar de baixo. Sem certeza de nada, Endrigo imagina uma história trágica: a mãe descobre estar perto do fim e pede para se reaproximar da filha.

 

Olha para o relógio e decide sair daquela loja também. Talvez vá para o próximo piso, onde há mais gastronomia, além de uma ampla área envidraçada para os que apreciam ver o decolar e o pouso dos “pássaros de prata”. Sem contar os amplos trechos em que o piso dá lugar a espaços abertos, dos quais se pode ver o andar de baixo e toda a sua movimentação de pessoas.

 

Não pretende comer muito, pois o chefão pode querer a breve reunião em volta de uma mesa de restaurante; e talvez peça que ele se alimente junto. Uma espécie de “etiqueta corporativa” aprendida. Escolhe sentar-se junto a uma mesa, no ponto de conexão entre a área com vista interna para o piso do check-in e a área de avistamento das aeronaves. Vai ingerir só mais um café e mastigar um pão de queijo para tapear a fome e distrair a gula, enquanto olha o movimento das pessoas nas lanchonetes.  

 

Faz seu pedido e, enquanto aguarda, vê dois comissários de bordo mais veteranos sentarem-se próximos. A emoção na conversa de ambos é tão contagiante, que Endrigo não consegue ficar sem ouvir. E nem deseja.

 

- Ah, Matias... Foram anos difíceis. Ele, sempre numa tripulação diferente da minha. – Disse a mulher.

 

- Imagino. As escalas de folga não devem ter coincidido muito.

 

- Quase nunca...quase nunca. Natal foi um luxo que eu e André não tivemos por vários anos.

 

- Nossa, Janice. Vocês mal se viram, então, por um bom tempo!

 

- A maior parte de nossa vida a dois, para ser sincera. – A mulher comenta, enquanto olha para o nada.

 

A conversa captura Endrigo. Mesmo se sentindo um abelhudo, não consegue desligar seus ouvidos. Estes continuam recebendo cada detalhe, cada pausa, cada emoção de palavras e seus tons. Mesmo sem olhar direto para a dupla, ele sabe, consegue adivinhar: há lágrimas no rosto da tal Janice. Pode sentir o sal úmido em sua voz, que prossegue:

 

- Sabe, inventamos um jeito de nos manter próximos. Não era uma época com tantos recursos, como agora, para trocar mensagens instantâneas. Passamos a deixar bilhetes, um para o outro, na porta da geladeira de nossa casa.

 

- Puxa! Parece até coisa de sessão da tarde... daqueles filmes bem água com açúcar. Que românticos!

 

Dá para ouvir a risada ambígua de Janice.

 

- Até tivemos recados assim. Mas acredite: boa parte deles não poderia passar na sessão da tarde, nem pelas palavras, nem pelas imagens!

 

- Que malandrinhos...

 

- No dia em que comemoraríamos dois anos juntos, nossas escalas teriam intervalos que coincidiriam por três horas em Guarulhos.

 

- Opa!

 

O ouvinte mergulha por completo na história, imaginando cenas, cores e emoções.

 

- Nossa! Planejamos aquele momento: Um lugar perto do aeroporto, champanhe especial, tudo! Amigos iriam nos levar e trazer.  Mas...

 

A pausa repentina deixa uma atmosfera melancólica no ar, percebida pelos dois homens que a escutam.

 

- O que houve?

 

- O voo dele atrasou.

 

Silêncio longo. Ela retoma a história.

 

- Não desisti por completo de tornar a data especial: o destino me fez conversar com um passageiro, que iria embarcar no próximo voo assumido pela tripulação dele. Era um jovem muito calmo e receptivo. Quando vi, estava lhe contando o meu drama. Sabe o que aconteceu? Ele se ofereceu para entregar ao meu marido uma carta minha e o presente que eu havia comprado. Foi um momento pra jamais esquecer!

 

- E deu tudo certo? Ele entregou?

 

- Melhor, meu amigo: Houve uma antecipação na chegada do voo de André! O piloto conseguiu melhorar os tempos da aeronave! Teríamos vinte minutos! Então, o passageiro me devolveu os embrulhos sorrindo, feliz por mim. E eu mesma os entreguei!

 

- Vinte minutos? Puxa, melhor do que nada, claro. Mas o encontro apimentado dançou, né...?

 

- Imagina... Havia uma sala VIP disponível bem perto; e o gestor era amigo de alguns amigos. Então, rapidinho, vieram as chaves para as minhas mãos ...

 

- Nossa! Que criativos!

 

- Sim... Só demos uns  “pegas”, né...Foi um tempo muito curto. Mas aprendemos a tornar esses minutos sempre muito importantes. Afinal, iriam disputar nossas lembranças, depois, contra muitas horas de distância.

 

- Uau! Tem razão: Isso não é sessão da tarde. É um livro de romance.

 

- A chama ficou sempre acesa, mesmo que na imaginação. Distância e compromissos não nos venceram.

 

- Mas nunca acertaram essas agendas?

 

- Nos últimos dois anos, conseguimos uma situação bem melhor.  Até aquele acidente levá-lo embora de vez.

 

- Nossa! Vocês não tiveram chance mesmo, né...?

 

A fala de Matias provoca reação na colega:

 

- Meu Deus, Matias! Você entendeu tão pouco pouco? Claro que sinto falta dele; e estou chorando ao lembrar de tudo. Mas nunca diria que não tivemos chance! Nós fizemos nossa chance! Numa corrida com obstáculos, mas tivemos uma história boa. Ele partiu com lembranças felizes. E eu também vou partir assim. É mais do que muitas amigas minhas podem dizer.  

 

Endrigo consegue sentir, outra vez, as lágrimas em Janice. Mas não são puro drama. Há orgulho e vitalidade nelas. E nesse instante, percebe água salgada em seus olhos também.

 

O relógio o avisa do horário. Ele pede a conta e desce para o portão de desembarque, reflexivo e mexido.  A veterana Janice falara em destino. E não fora o único recado diferente do dia. Houve ainda as lembranças trazidas por um uniforme verde; e o encontro inusitado com Leila. A menção ao paradeiro de Marta. Além da estranha frase de uma mãe, decidida a se reaproximar da filha antes que fosse tarde demais.

 

O voo do CEO aterrissa. Endrigo se posiciona na saída do desembarque, segurando a placa com a expressão “Sr. Otto Binder”, enquanto sua mente repete, como fundo musical, as cenas vividas no aeroporto. Sobretudo uma parte das palavras da mãe de Leila: “É pena que tempo parecer nosso inimigo, bem na fase em que ele pode ser um aliado”.  Deveria ele estar repensando o que fez com sua vida? Por que tantos momentos do dia trouxeram seu ex romance de volta às suas lembranças? Marta, agora uma gestora no Uruguai... quem diria!

 

- Como vai, senhor... Endrigo? Sou Otto Binder.

 

A apresentação do aguardado gestor tira a mente do funcionário de seu looping emocional.

 

- Seja bem-vindo, Sr. Binder.

 

Como presumido, Otto dispensa a sala de reuniões e pede para ir a um restaurante, pois ainda não fez nenhuma refeição. A comida é pedida. Em seguida, enquanto aguardam os pratos, o CEO vai direto aos pontos da conversa:

 

- Sr. Endrigo, vou abreviar bastante nossa encontro. Não posso perder o próximo embarque, pois a operação a acompanhar em Mendoza, na Argentina, é muito importante para a empresa.

 

- Entendo, senhor. Pode contar com meu pragmatismo na conversa.

 

- Ótimo. Acho que serei ainda mais breve do que presume. A apresentação dos relatórios ficará resumida à entrega dos arquivos. Posteriormente eu farei as perguntas sobre o que me deixar com dúvidas.

 

Endrigo abre sua mochila, retirando pastas e um pen drive.

 

- Tenho os registros em versões impressas e em arquivo eletrônico. – Informa, entregando o material ao CEO.

 

- Obrigado.

 

Enquanto Otto manuseia os documentos impressos, um garçom traz bebidas e o couvert. Os dois se servem e a conversa se inicia. Otto faz uma breve explanação sobre os planos da empresa para se expandir na América do Sul. Os pratos principais chegam.

 

- Olha, os negócios que vou acompanhar na Argentina irão precisar de um representante brasileiro. Penso em levar um dos gestores aqui de Curitiba, se interessar a um de vocês. Vou passar arquivos atualizados sobre a estrutura, o estágio e os desafios daquela parte dos negócios.

 

- Certo. Lerei tudo e farei reunião com meus pares.

 

 Endrigo responde com expressão protocolar de presteza, avaliando, no íntimo,  que esse resumo de pauta poderia muito bem ter sido feito à distância. Isso lhe faz pensar haver mais alguma razão para o Sr. Binder ter mantido aquele encontro pessoal. Até porque, quando marcou a atividade, solicitou dois gerentes específicos ali: Ele e Alfredo, que não pôde vir.

 

A suposição do funcionário se confirma em seguida:

 

- Endrigo, há mais uma razão para eu querer manter a reunião de qualquer jeito, mesmo sem muito tempo para conversar.

 

- Pode falar, Sr. Binder.

 

O CEO o encara e confidencia:

 

- Quando as conversas em Mendoza se concluírem, tenho mais uma missão: estamos negociando a incorporação de uma empresa similar à nossa, noutro país da América do Sul. Ela é menor e menos complexa do que a da Argentina. Mas está em lugar estratégico e precisa de uma gestão habilidosa para melhorar seus resultados.

 

- Isso é interessante. Espero que as conversações se concluam bem.

 

A manifestação de Endrigo, que diz tudo e não diz nada, disfarça a inquietação de quem sabe que, após essa preleção, virá alguma missão. Daquelas que o pessoal da sede não quer. Por isso, deve sobrar para ele ou o colega ausente. E o dedicado profissional nunca pensou em fazer esse tipo de manobra em sua vida. Então começa a torcer por seu parceiro de atividades.

 

- Obrigado. Também espero. E torço para ver você ou o Alfredo aceitando assumir essa praça. Pensem muito nisso, por favor.

 

Para manter a etiqueta, o funcionário finge surpresa, enquanto pensa num discurso bem lógico para defender o colega.

 

- Puxa, senhor Binder. Quanta honra! Confia mesmo estarmos à altura da tarefa?

 

- Confio! Do modo como vejo, qualquer um dos dois ergueria o Uruguai em dois anos!

 

A revelação derruba os argumentos de Endrigo.

 

- Uruguai?

 

- Montevidéu, para ser mais exato. Com uma pequena parte em Colônia.

 

Súbito, todas as cenas do dia, todas as partes cutucadas em suas emoções, todos os desfiles do passado ante seus olhos, todos os alertas sobre vida, tempo e destino, voltam à tona e se reconectam através de um mesmo ponto, agora apresentado como racional. 

 

Endrigo perde a posição de observador, aquela que imaginara ter enquanto passara o tempo no Afonso Pena. Neste momento, se dá conta: dentre as várias histórias sempre imaginadas como desfilando num terminal aéreo, hoje passa uma em especial: a sua. 

 

E o que ele irá fazer? O que ele de fato quer fazer? O tempo dirá.

 

E, talvez, algum observador que o veja, no futuro próximo, passando por ali, imagine ou adivinhe sua decisão e o rumo trazido por ela. Aeroportos, afinal, são lugares cheios de histórias. E, a cada hora, elas podem mudar.

 

Sandro Sedrez dos Reis
Enviado por Sandro Sedrez dos Reis em 03/07/2023
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras